segunda-feira, 18 de outubro de 2021

   60 anos de vida e a sociedade em colapso. Fraca altura para desajustes imprevistos, fora as obras públicas na minha rua e na zona envolvente, que já levam15 meses, e o meu isolamento custa a passar. 
   Tanta inépcia estava a pôr-me fisicamente deficiente: o barulho ininterrupto das máquinas, a cama exagerada por falta de motivação para me pôr a andar e o clima agreste deram motivo a um golpe de sorte inesperado - regressar à terra.
   A última vez que tinha feito agricultura tinha sido na zona de Conhaque em França a apanhar beterrabas do solo gelado, mas não aguentei o frio e tive de ir para Paris, ou morria.

   Dois hectares de terreno em estado selvagem.
   A primeira abordagem (como sempre) foi cortante: arranhões, escoriações, esfoladelas, pisadelas, comichões, cortes e depois a "bicha cadela", a família toda. Fiquei cheio de papos e marcas negras esquisitas e tive de comprar um creme para aliviar. Ok. Nice. Já passou, isto no Outono passado.
   No Inverno não há nada para ninguém, e a Primavera veio agressiva, chuvosa e gelada (a contrariar o medo da seca que se estava a instalar) até que o céu abriu e fui dar uma espreitadela à terra encharcada. 
   Como sou meio tolo ataquei as urtigas negras com leviandade, confiante na minha capacidade para resistir a tudo (menos à estupidez) e fiquei cheio de marcas na cara para mais uns dias por ter coçado muito a cara suada com a mão urticárialada - ah-ah-ah- ada.... (mother fucker).
   Adoro a terra da nossa terra, o meu ginásio privado com a sua vida animal (sobretudo bactérias, e um pássaro ou outro) e estar ao ar livre a olhar para o céu sem ver carros a passar.
   É tudo por hoje, porque ainda não retomei a rotina no meu novo livro - Ninho de milhafres - e continuo a gravar até receber a monição que a vai pôr no ar. Depois é escrita e enxada - estranha e psicadélica associação - alquimia cibernética.