terça-feira, 30 de setembro de 2014

                                   FEIRA DE ESPINHO  I

A feira tinha três vezes o comprimento que tem hoje, e nalgumas áreas era muito mais larga, sobretudo onde está agora o tribunal da cidade.
Com promessas, subterfúgios e outras mentiras, tudo fizeram para acabar com ela. Mas não conseguiram.
Vê-se a alma dum povo nas feiras.



Feirantes com estilo fazem realçar o brilho da chapa das panelas, alguidares, frigideiras e talheres com uma passadeira vermelha. 



Chapéus há muitos, palerma. 
Felizmente a maior parte das pessoas escapa ao insulto porque nunca usou chapéu. E não sabe o que perde. 
Chapéu dá estilo.



A feira tem algo de imutável, de eterno. Claro. 
Quem tem barriga tem fome, e é nela que se pode comprar um pouco de tudo que se cultiva, fabrica e produz nesta área. 
É uma espécie de microcosmo popular, onde os lavradores, artesãos e pescadores, vão partilhar os seus produtos com a sociedade.
E no fim ficam todos felizes (não sei se acredito nesta observação).



A cor e tridimensionalidade do espaço são desopilantes para o espírito. O mesmo deveria de acontecer com os cheiros, mas infelizmente este ano está muito fraco nesse capítulo: muita chuva e humidade não deixam as plantas atingir a plenitude odorífera normalmente acessível a quem anda no meio da natureza: como nós.



Adoro a leveza dos tectos de lona (como um Beduíno do deserto da Líbia). 
O primeiro tecto da minha casa era igualzinho a este amarelo (mas mais resistente); infelizmente uma invasão de ratos, usando os ramos de kiwi do vizinho que chegavam até ao telhado da minha casa, acabaram com ele, correndo, dançando, cagando e mijando durante toda a noite, como B-52 fratricidas a levantarem voo de alguma pista de aviação anónima neste mundo. 



Este ano quase não vamos precisar de feijão porque a mulher plantou muito. Mas não deste vermelho. 
Gosto deste vermelho com pernil, por exemplo.
Feijão faz bem à tripa cagueira, e nunca na vida tive tanta flatulência suave e quase independente como agora. Hás vezes quase tenho medo de me cagar involuntáriamente pelas pernas abaixo, mas acho que é imaginação minha. O metano é que não é, mas é irrelevante (em comparação ao feijão seco).


  
Gosto desta imagem quente e reconfortante. Apesar de já não comer pão fora de casa há anos.
Só numa festa ou outra a que vá, como um pouco.
Há anos a mulher apercebeu-se que o pão que comprávamos e comíamos todos os dias (como toda a gente) não prestava. Estava cheio de fermento e não era saudável. A partir dai começou a cozer o seu próprio pão, com sementes. 
Agora pedi-lhe para fazer uma série de experiências com farinha de cereais diferentes, porque estou com problemas de dentes e gengivas; um pouco mais de fermento e farinha de trigo, para começar. Criar uma massa que se aproxime da sêmea. 
No entanto gostei do aspecto destas regueifas.



Isto é cabaça Tailandesa. 
Como se pode ler no cartão, tem propriedades medicinais (segundo diz o sobrinho do vendedor que é médico e trouxe as sementes da Tailândia). Este semeou e aqui está o resultado. 
Vou comer metade ao jantar de hoje, embora ainda não saiba muito bem como abordar semelhante produto. Vai é acompanhado por pimentões malagueta. 
A noite vai ser escaldante.


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

                                       Feira de Espinho

A feira semanal de Espinho, depois dum declínio forçado, com trabalhos de campo que nunca mais acabavam (situação social tipicamente Portuguesa) é única.



Todas as segundas-feiras milhares de pessoas passam por aqui. A maior parte são curiosos que não compram nada, mas mesmo eles não resistem à tentação de querer qualquer coisinha. Os outros vêm atrás de iguarias e produtos que só aqui existem em grande variedade (sobretudo frutas e legumes) e é regatiável. 



Há algo de libertador neste tipo de ambiente. 
As feiras, desde os primórdios do tempo, sempre foram magnetite para a raça humana. 
Há algo que atrai as pessoas às feiras, e esse algo é a novidades. Com o desenrolar das estações, todo o tipo de produtos hortícolas e fruta rolam ininterruptamente nas bancas, semana após semana, como as ondas do mar ao fundo da encosta.


  
  Conheço esta feira desde que nasci, e quando fui para o secundário foi aqui, em Espinho, que tive de estudar, porque não havia mais nenhum estabelecimento de ensino perto de minha casa. A feira para mim era uma passagem para a outra margem, mas demorava a passar, curioso a olhar para todos os lados, e apreciava algumas guloseimas que não podia comprar quando tinha 11, 12, 13 anos. Sobretudo um cone de natas, hoje horrível, mas na altura desejado como um presente dos Deuses.



 Este é o homem do mel. E mel é coisa que ultimamente tenho consumido aos litros, devido à humidade. 
Desta vez trouxe de urze. É 50 cêntimos mais caro, mas é mais selvagem. E selvagem mi gusta.
Tenho bastante a mania de fazer uma mistura de cerveja, vinho e mel, quando faz frio (e por vezes quando não faz tanto assim). É o meu hidromel. Dá-me é cabo da vesícula. E põe-me irascível com tudo e todos. Uma lástima.



A feira é de toda a bicharada, e a maior parte devia estar noutro continente, mais quente.
É triste ver seres sequestrados da sua terra e vendidos como escravos para glaúdio de macacos pensadores burros com barba na venta. Pouco inteligente. Essa gente não sabe que a National Geographic fornece esse tipo de serviço de graça ao domicílio? Ou quase de graça. 
Hoje em dia, de graça. só o ar. Até ver.



E talvez alguma marihuana, no meio de tanta semente para periquito. Metem bastantes de cânhamo.
Sendo a semente o princípio da vida, devia de ser idolatrada! Acho que sim. Como Jesus e Allah. Acho mesmo que até mais. Pelo menos faz mais pelos seres vivos do que esses "santos" acomodados e sem sentido.



Se o homem moderno se quiser agarrar a alguma coisa, que se agarre aos tomates. Está a perdê-los, talvez devido à radiação emanada dos telemóveis e ipod, tablets e portáteis, relógios electrónicos e escuta nas orelhas.


Até os ratos de computador (e outros) podem ser subservientemente nefastos (ou desagradáveis) quanto baste. Os melhores ratos são os que ficam para o fim.



Aqui temos uma amostra da cutelaria... global? Deve haver um pouco de tudo nesta confusão, menos lâminas do Japão. Isso é de certeza.



Vou ficar por aqui hoje, com esta louça sortida para todos os gostos. Continuo amanhã, com mais bancas carregadas de fruta, ferragens, flores e breeebleddeeedeedee..de.

domingo, 28 de setembro de 2014

OUTONO 2014
Quando dá, passeamos, a pé.
Este Outono está a ser moderado. Claro que ainda está a começar e aproveitamos todas as deixas para caminhar, fotografar a natureza (sobretudo) e respirar o ar fresco da nossa terra, desanuviada pelos toscos que só sabem andar de carro. Mais um bocado e estamos no Inverno. 
Este ano está a passar a correr como o TGV de Tóquio, e a necessidade de recolectar suprimentos para o frio torna-se uma prioridade. Com o passar dos anos sinto um estranho magnetismo que me atrai para a terra, para o mundo vegetal e mineral. E para a fruta deixada ao desleixo nos pomares abandonados da freguesia. 
Se me deixassem gerir uma quinta que eu cá sei, haveriam duas grandes festas por ano. 
A Mãe-Terra é quem manda. 
E a especulação monetária mundial.
A sociedade moderna é escrava do dinheiro. Não se pode passar sem ele. Se não tens és um desgraçado, e até podes morrer à mingua. No entanto a sobrevivência está na tua mão, na terra que te rodeia, na tua vontade de te mandares para a frente e a trabalhares. Eu sei que é duro trabalhar a terra, mas num ambiente caseiro, com um terreno de comprimento moderado, tanque de lavar a roupa à mão perto, humm... A reciclagem é uma prioridade, e vale tudo. A Mira que o diga (a minha mulher). É ela quem marra com tudo isso (eu dou apoio psicológico) e trabalha três vezes mais do que eu. Mas diz ser feliz assim. 
Para o macaco é como viver no paraíso (com o Inferno à porta).
As pessoas estão cada vez mais gordas, nunca vi tantos gatos na vida como agora (desde que os comecei a adoptar) e a vida animal está a regressar ao abandono a que estão a deixar as terras: o ano passado vi um esquilo no castelo, e este ano um casal de milhafres no Cerrado. Há décadas que ninguém via nada disso por aqui. Isso é bom e eu gosto, mas por outro lado mostra o desleixo a que estão a deixar a propriedade e a terra cultivável, desprezada por nenhum motivo de maior: mantê-la saudável e rentável não é nada do outro mundo. Apenas pela vontade do dono ou do herdeiro (sobretudo, habitualmente, dos herdeiros) é que ela não dá frutos. 
Nada se compara à comida produzida por nós próprios, colectada e cozinhada por nós. Sabemos o que estamos a comer. 
  
Esta corola de margarida parece um bolo de fios d´ovos da Ria de Aveiro. Curioso. Apetece comer. O vinho doce do ano foi mais carmesim do que o habitual, acompanhado por tarte de maçã da quinta. Acho que nunca comi tantas maçãs como este ano. Estão saborosas, sobretudo os malapos de casca de sapo.
Esta cabeça de pinha de proteia é fôfa, e é difícil ser específico em relação ao que poderá parecer. 
Gosto deste tipo de impasse perceptivo; é aconchegante.
Como o amor.


O mundo está a mudar, mas a percepção da sociedade anestesiada pela urbanidade e cibernética não se apercebe do tal: a não ser na internet (sem grande convicção). Tudo o que era bom no passado são agora memórias no arquivo do tempo.
A sociedade desenraizada e manipulada pelo sistema desumanizado e frio, ferve de raiva, mas não reage. O povo é velho e mole, orgulhoso e convencido dos seus valores cheios de bolor, mas dono da terra. E não dá chance a ninguém de mudar o que quer que seja. Está-se bem como se está: é quanto basta. 
Num mundo cor-de-rosa.

domingo, 21 de setembro de 2014

Hoje, domingo, pensei que ia ficar em casa por causa do clima. Deitado na cama olhava para fora da janela, e só via nuvens e mais nuvens, sempre a mudarem de cor e feitio, mas enganei-me.
Levantei-me sem pressas e apercebi-me que estava muito mais quente do que ontem; pelo menos mais quatro graus.
Comi uma sopa e decidi ir dar uma volta pela fonte e pelo pinhal, para gastar umas horas ao ar livre e esticar as pernas. Acabei num pomar abandonado a apanhar maçãs para fazer tartes e compota para o Inverno, e fiquei desolado com o ambiente. 
Via a toda a volta macieiras e mais macieiras carregadas, toneladas de maçãs, e o chão coberto doutras tantas, a maior parte ainda boas para aproveitar (nem que fosse para os animais - galinhas, porcos, etc.) e penso no desperdício de tão boa fruta numa sociedade em crise - embora saiba que hoje em dia a maior parte das pessoas não come fruta.


sábado, 20 de setembro de 2014

O blogue é como um caixote onde a gente arruma algumas ideias ou memórias (para a posteridade - pelos vistos) e acho muito bem.
Eu pessoalmente gosto dele, porque dá espaço para explanar todo o tipo de maluqueiras que nos possam vir à cabeça, e não se paga mais por isso. Claro que geralmente sou mais reservado e escrevo no meu próprio espaço, mas de vez em quando dou um ar da minha graça com noticias que não interessam a ninguém, e acho graça.
Finalmente tive cá em casa um velho amigo, e músico, para me dar uma mão: o Guimarães. Durante duas meias tardes desbundou o mais que pôde nas músicas que teve tempo de ouvir, ao baixo, à guitarra, e com a dele, uma viola de blues clássica. Volta no Natal para mais uma rodada - se possível preparada a pensar nele (dar-lhe espaço para tocar de forma mais controlada e descontraída).
Apesar de tudo fiz mais umas musiquetas nestes últimos meses (fora os arranjos do Guimarães, já editados) e apresento "O trabalhador independente", "Raios e coriscos", "Mira no Rajastão", "Toureando" e "A criatividade". A partir daqui vou compor a pensar na contribuição que o Guimarães prometeu dar no Natal, e eu acredito nele. Penso começar com "A roda viva", texto religioso-místico, e logo se verá o que vai sair. Isto depois de me passar a infecção que apanhei numa gengiva e me pôs o lado direito da cara como um melão.
Estou também com este take a experimentar o blogue, visto no passado ele me estar a dar seca, e eu não tenho tempo a perder com caprichos de programadores de máquinas. Tenho mais que fazer e quem manda na minha vida sou eu, não nenhum computador, embora admita o envolvimento consciente que se tem com ele, e a dependência inequívoca, assumida ou não. O mundo, tal como o conhecemos, já não pode passar sem ele (e isso é mau). Basta uma forte tempestade electro-magnética para desactivar todos os sistemas electrónicos do planeta, e provocar o caos.
É bom estar de volta.