domingo, 28 de setembro de 2014

OUTONO 2014
Quando dá, passeamos, a pé.
Este Outono está a ser moderado. Claro que ainda está a começar e aproveitamos todas as deixas para caminhar, fotografar a natureza (sobretudo) e respirar o ar fresco da nossa terra, desanuviada pelos toscos que só sabem andar de carro. Mais um bocado e estamos no Inverno. 
Este ano está a passar a correr como o TGV de Tóquio, e a necessidade de recolectar suprimentos para o frio torna-se uma prioridade. Com o passar dos anos sinto um estranho magnetismo que me atrai para a terra, para o mundo vegetal e mineral. E para a fruta deixada ao desleixo nos pomares abandonados da freguesia. 
Se me deixassem gerir uma quinta que eu cá sei, haveriam duas grandes festas por ano. 
A Mãe-Terra é quem manda. 
E a especulação monetária mundial.
A sociedade moderna é escrava do dinheiro. Não se pode passar sem ele. Se não tens és um desgraçado, e até podes morrer à mingua. No entanto a sobrevivência está na tua mão, na terra que te rodeia, na tua vontade de te mandares para a frente e a trabalhares. Eu sei que é duro trabalhar a terra, mas num ambiente caseiro, com um terreno de comprimento moderado, tanque de lavar a roupa à mão perto, humm... A reciclagem é uma prioridade, e vale tudo. A Mira que o diga (a minha mulher). É ela quem marra com tudo isso (eu dou apoio psicológico) e trabalha três vezes mais do que eu. Mas diz ser feliz assim. 
Para o macaco é como viver no paraíso (com o Inferno à porta).
As pessoas estão cada vez mais gordas, nunca vi tantos gatos na vida como agora (desde que os comecei a adoptar) e a vida animal está a regressar ao abandono a que estão a deixar as terras: o ano passado vi um esquilo no castelo, e este ano um casal de milhafres no Cerrado. Há décadas que ninguém via nada disso por aqui. Isso é bom e eu gosto, mas por outro lado mostra o desleixo a que estão a deixar a propriedade e a terra cultivável, desprezada por nenhum motivo de maior: mantê-la saudável e rentável não é nada do outro mundo. Apenas pela vontade do dono ou do herdeiro (sobretudo, habitualmente, dos herdeiros) é que ela não dá frutos. 
Nada se compara à comida produzida por nós próprios, colectada e cozinhada por nós. Sabemos o que estamos a comer. 
  
Esta corola de margarida parece um bolo de fios d´ovos da Ria de Aveiro. Curioso. Apetece comer. O vinho doce do ano foi mais carmesim do que o habitual, acompanhado por tarte de maçã da quinta. Acho que nunca comi tantas maçãs como este ano. Estão saborosas, sobretudo os malapos de casca de sapo.
Esta cabeça de pinha de proteia é fôfa, e é difícil ser específico em relação ao que poderá parecer. 
Gosto deste tipo de impasse perceptivo; é aconchegante.
Como o amor.


O mundo está a mudar, mas a percepção da sociedade anestesiada pela urbanidade e cibernética não se apercebe do tal: a não ser na internet (sem grande convicção). Tudo o que era bom no passado são agora memórias no arquivo do tempo.
A sociedade desenraizada e manipulada pelo sistema desumanizado e frio, ferve de raiva, mas não reage. O povo é velho e mole, orgulhoso e convencido dos seus valores cheios de bolor, mas dono da terra. E não dá chance a ninguém de mudar o que quer que seja. Está-se bem como se está: é quanto basta. 
Num mundo cor-de-rosa.

Sem comentários:

Enviar um comentário